Os luisiadas
A mitificação do herói n’Os Lusíadas
Na Proposição d’ Os Lusíadas, Camões propõe cantar o peito ilustre lusitano, ou seja, o povo português que, por feitos grandiosos nunca antes realizados, conquistou a imortalidade. Ao afirmar que «cessem do sábio Grego e do Troiano», Camões propõe-se superar com o seu canto os heróis da antiguidade. Na Invocação, Camões destaca o elevado valor dos portugueses, ao ponto de precisar do apoio das ninfas do Tejo para que o seu canto seja de «tuba canora e belicosa», ou seja, com uma grandiosidade equivalente à dos feitos dos portugueses. Na Dedicatória, o poeta dedica o poema a D. Sebastião e reafirma a natureza histórica do seu canto, que irá adquirir a forma de uma narração épica. No consílio dos deuses do Olimpo, o herói é enaltecido, sobretudo, através dos receios de Baco, uma vez que este deus teme que a sua glória seja destruída caso os portugueses cheguem à Índia. O facto de um deus temer “o bicho da terra tão pequeno”, engrandece a gente lusa. Além disso, a importância dos portugueses é confirmada pelo facto de os deuses se reunirem para decidir o futuro do povo português. O discurso de velho do Restelo, que se opunha à empresa dos Descobrimentos, comparando os portugueses a Prometeu (roubou o fogo aos deuses) e a Ícaro (que voou e chegou ao Sol), contribui também para elevar e engrandecer o povo português. O velho tem um saber «só de experiências feito» e prevê que a glória dos portugueses nunca seja cantada em verso. Uma vez que se engana, esta é também uma forma de engrandecer os portugueses. O Gigante Adamastor, que representa o cabo das tormentas e a vitória do Homem sobre a Natureza, revela toda a sua fragilidade perante os nautas, elevando o carácter heróico e a coragem deste povo, que supera os seus medos e enfrenta o desconhecido. Vasco da Gama afirma que «arrepiam-se as carnes e o cabelo» só de ver o gigante. No entanto,