Olhar e ver: uma análise do filme ensaio sobre a cegueira
“Quero sublinhar a relação entre o verbo e a imagem para iniciar uma reflexão mais particularizada. De início é preciso constatar que não se pode separar esta parceria que eles formam, uma vez que a imagem condiciona o texto e vice-versa. Ou por outra, logo que nós não dispomos mais de imagens, é o verbo quem nos fornece novas possibilidades”. (Bavcar,1994, p.9). A partir de leituras de alguns textos freudianos e lacanianos enlaçados com partes do filme de Fernando Meirelles (2008), baseado no livro Ensaio Sobre a Cegueira (1995) de José Saramago, este trabalho procura repensar alguns conceitos psicanalíticos relacionados com a cultura e formação psíquica dos sujeitos. A princípio, falar de um filme que trata sobre a cegueira em uma sociedade totalmente visual, parece ser um disparate. Mas através do filme, José Saramago nos leva a perceber que as imagens nos cegam. As imagens não nos deixam ver o que acontece conosco. Para Lacan (1964) existe um olhar preexistente que deve ser discernido pelas vias do caminho que ele mesmo indica “[...] O que se trata de discernir [...] é a preexistência de um olhar – eu só vejo de um ponto, mas, em minha existência, sou olhado de toda parte”. (LACAN, 1964, p. 73). Para a maioria das pessoas, falar de cegueira é apenas abordar um problema físico que afeta os olhos, mas existe também a cegueira na existência de um olhar que cega. Esse olhar erotizado que vê de outra maneira é o olhar do senso-comum que se engana pelo que crê que esteja vendo, como o olhar do médico que corta todos os sentidos emocionais dos sujeitos e concentra-se apenas no olho como mecanismo da visão. No filme, Saramago tenta capturar o fracasso do olhar redutor que se estabelece de várias formas. Do olhar que parte do princípio de que todos sentem e vêem de forma igual, que reduz os sujeitos a olhos e não olhar. Os personagens do filme Ensaio Sobre a