não existe língua primitiva
Por MARCOS - 17/04/2013 às 20:03
O que caracterizaria uma língua “primitiva”? A pobreza de vocabulário já vimos que não existe. Seria, então, a pobreza na gramática, nos recursos sintáticos do idioma? Uma comparação rápida entre o latim clássico e o latim vulgar e, mais adiante, entre o latim vulgar e as línguas românicas, mostra as inúmeras “perdas” que ocorreram no processo. No entanto, é claro que também ocorreram muitos “ganhos”, porque afinal toda língua humana tem que dar conta de expressar uma série de categorias sociocognitivas sem as quais o conhecimento e a interação seriam impossíveis (tempo, lugar, espaço, pessoa, objeto, visão, movimento, evento etc.). Se as línguas românicas abandonaram as declinações do latim, as funções sintáticas passaram a ser exercidas pela ordem dos termos na oração e pelo uso das preposições. O latim não apresentava artigos nem pronomes de não-pessoa (a chamada “3a pessoa”), lacunas que foram supridas em todas as línguas românicas.
Se existisem línguas “primitivas” também poderíamos falar de línguas “desenvolvidas”. O que caracterizaria essas línguas? Difícil (impossível) responder. Se o paralelo for feito entre desenvolvimento tecnológico e “desenvolvimento” linguístico — como muita gente, equivocadamente, faz — poderíamos dizer que as línguas mais “desenvolvidas” seriam as línguas faladas pelos povos mais desenvolvidos do ponto de vista científico, tecnológico, econômico etc. Ora, qual é a língua dos dias de hoje que corresponde melhor a essa definição senão o inglês?
O inglês, no entanto, é uma língua extremamente simples, do ponto de vista morfossintático. Observe, por exemplo, quantas traduções possíveis existem para uma única forma verbal inglesa: você pôde / vocês puderam podia podiam YOU COULD poderia poderiam pudesse pudessem