Nem preto nem índio – somos todos mestiços: ensaio sobre a identidade nacional e branqueamento no Brasil
Nem preto nem índio – somos todos mestiços: ensaio sobre identidade nacional e branqueamento no Brasil
Willian Luiz da Conceição e Luiza Tonon da Silva1
Resumo: Em 1880, oito anos antes da abolição formal da escravidão no Brasil, o crítico literário, promotor, juiz e deputado federal Silvio Romero apresentava sua tese sobre a supremacia branca e o futuro racial brasileiro. Essa tese se assentava na necessidade do fim do tráfico de africanos, na constatação do desaparecimento dos “índios”, na entrada constante e permanente de imigrantes europeus e na necessidade de aclimatização do branco através da mestiçagem. Acreditava Romero que a supremacia branca não era por ela ameaçada, como defendiam muitas das teorias raciais clássicas. Para ele, a imigração de contingentes de europeus, alinhada a uma política de mestiçagem, era o elemento chave para a “preponderância” do processo de branqueamento que conduziria o país a um futuro “puro e belo como no velho mundo”. A mestiçagem como teoria do branqueamento foi elemento decisivo na constituição da identidade nacional brasileira. Este artigo apresentará um histórico do debate sobre a mestiçagem e do branqueamento na formação da identidade nacional brasileira; a mestiçagem enquanto elemento antropofágico. Tal debate será analisado nos discursos políticos, artísticos e literários do final do século XIX até as primeiras duas décadas do século XX.
Palavras-chave: mestiçagem; branqueamento; identidade nacional; antropofagia; racismo.
Estamos no ano de 2013 e dois jovens se apaixonam. Ela uma moça branca, olhos verdes, pele clara e filha da classe média alta. Ele um garoto negro, pele escura, destes que são por ai conhecidos no ditado popular de “azuis e/ou tiziu”. Para acirrar as diferenças que marcam o relacionamento dos jovens, o rapaz vive num dos morros da cidade, lá onde