Embranquecimento do Brasil
É, [...] um preto que tá numa situação financeira boa, ele não vai procurar uma preta, pra melhorar a raça, né, vão, então, aquela riqueza vai progredindo, e tudo, ele vai procurar uma branca, porque ele quer melhorar a cor dos filhos [...].
Para uma sociedade de classe com mentalidade racista, o casamento misto, em particular do negro com alguém do segmento branco, representava tanto o aprimoramento da raça quanto a premiação pela vitória conquistada: a mobilidade social. A esposa ou marido brancos simbolizavam, de forma combinada, uma melhoria dupla: de raça e de classe social. Já o casamento dentro da própria comunidade étnica era concebido como ameaça.
Em uma conjuntura na qual a classe dominante franqueou uma fé "religiosa" no branqueamento, o mestiço, dependendo do grau de pigmentação da pele, era classificado como quase-branco, semibranco ou sub-branco e tratado de forma diferenciada do negro retinto, porém não era considerado um quase-negro, seminegro ou subnegro. Em outras palavras, podemos afirmar que a mestiçagem era via de mão única. No cruzamento do branco com o negro, necessariamente, contava-se com o "clareamento" gradual e permanente da pessoa, mas jamais se cogitava a hipótese de que a mestiçagem gerava o "enegrecimento" da população.
Tendo em vista um recorte racial, é possível sustentar que alguns escritores da "imprensa negra", no início do século XX, submetiam os textos ficcionais à orientação mais geral da ideologia do branqueamento.
O conto, batizado de "A Quem me Entender", um negro, convidado pelos amigos, vai a uma "simples, mas encantadora reunião familiar". No local da tertúlia, estava conversando despretensiosamente com os convidados, mas, de repente, olhou para uma mulher (branca, provavelmente loira) que, inexplicavelmente, o fascinou. Foi amor à primeira vista. Ascendeu