Lit. Africana
Domício Proença Filho
RESUMO
ESTE ARTIGO busca traçar o percurso do negro na literatura brasileira, como objeto, numa visão distanciada, e como sujeito, numa atitude compromissada. Destaca, de um lado, textos literários sobre o negro e, de outro, literatura do negro. Identifica, na produção literária ao longo do processo literário brasileiro, estereótipos reduplicadores da visão preconceituosa, explícita ou velada. Procura marcar a ultrapassagem do estereótipo e a assunção do negro como sujeito do seu discurso e de sua ação em defesa da identidade cultural. Nessa direção, seleciona autores e textos representativos produzidos notadamente a partir dos anos de 1970, momento de efervescência dos movimentos de auto-afirmação da etnia. Discute a designação literatura negra, entendida como aparentemente valorizadora, mas passível de converter-se em risco de fazer o jogo do preconceito velado. A PRESENÇA DO NEGRO na literatura brasileira não escapa ao tratamento marginalizador que, desde as instâncias fundadoras, marca a etnia no processo de construção da nossa sociedade.
Evidenciam-se, na sua trajetória no discurso literário nacional, dois posicionamentos: a condição negra como objeto, numa visão distanciada, e o negro como sujeito, numa atitude compromissada.
Tem-se, desse modo, literatura sobre o negro, de um lado, e literatura do negro, de outro. O negro como objeto: a visão distanciada
A visão distanciada configura-se em textos nos quais o negro ou o descendente de negro reconhecido como tal é personagem, ou em que aspectos ligados às vivências do negro na realidade histórico-cultural do Brasil se tornam assunto ou tema. Envolve, entretanto, procedimentos que, com poucas exceções, indiciam ideologias, atitudes e estereótipos da estética branca dominante.
Assim dimensionada, a matéria negra, embora só ganhe presença mais significativa a partir do século XIX, surge na literatura brasileira