STP T
Tjerk Hagemeijer2
Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL)
1 Introdução.
As ilhas de S. Tomé e Príncipe caracterizam-se por uma grande diversidade linguística que está directamente relacionada com dois períodos históricos: a primeira colonização, que abrange o povoamento e o ciclo de açúcar, no século XVI, e a segunda colonização, que está intimamente ligada aos ciclos de café e de cacau nos séculos XIX e XX.3
Actualmente, são faladas, nas duas ilhas, o português, três línguas crioulas autóctones que resultam da primeira colonização, o forro, o angolar e o lung‟ie, e ainda o caboverdiano e a chamada língua dos tongas, ambos fruto da segunda colonização. Este artigo analisa o processo que conduziu à actual situação linguística de S. Tomé e
Príncipe e procura apontar causas para a presente supremacia do português face aos crioulos autóctones.
2 A primeira colonização (±1485-1600)
Depois de uma primeira tentativa falhada em 1485, a ilha de S. Tomé é povoada com sucesso em 1493, essencialmente por portugueses4 e escravos do continente africano, dando-se, assim, início à primeira colonização, que termina com o colapso do ciclo de açúcar no fim do século XVI. Este período de pouco mais de um século pode ser desdobrado em dois momentos: (i) a fase de habitação, que consiste no povoamento e desbravamento durante o período inicial, e (ii) a fase de plantação, que centra a sua actividade na produção e exportação de açúcar. Os primeiros engenhos açucareiros em
S. Tomé surgem na segunda década do século XVI (Garfield 1992), tendo a produção atingido o seu auge na segunda metade do mesmo século.
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Agradeço os comentários de Gerhard Seibert e a revisão cuidadosa de Rita Gonçalves.
Investigador ao abrigo do Programa de Contratação de Doutores para o Sistema Científico Nacional,
Ciência 2007/2008. Artigo baseado na comunicação proferida no seminário internacional Arquipélagos