Mito e Religião

5234 palavras 21 páginas
1. Ponto de partida da Filosofia das Formas Simbólicas: a “revolução copernicana” de Kant

No segundo volume de sua Filosofia das Formas Simbólicas, Cassirer afirma ter realizado em sua filosofia uma ampliação da inversão kantiana. “A ‘filosofia das formas simbólicas’ adota esta idéia crítica fundamental, este princípio em que se apóia a ‘inversão copernicana’ de Kant, a fim de ampliá-lo” (1925a, p.51). [ii] Cassirer concorda com a “revolução copernicana” de Kant, mas vê nela um limite: restringir a esfera do conhecimento ao físico-matemático.

Se para Kant a ciência era concebida como um conhecimento universal e necessário, a esfera da objetividade por excelência, em Cassirer a ciência passa a ser compreendida como um conhecimento simbólico, uma “construção” simbólica em meio a outras. Nessa perspectiva, perde seu caráter universal e necessário e se coloca no mesmo patamar de outros conhecimentos simbólicos, de outras formas simbólicas. [iii]

Cassirer defende a tese que não só o conhecimento científico é um conhecimento simbólico, mas todo conhecimento e toda relação do homem com o mundo se dá no âmbito das diversas “formas simbólicas”. E o que Cassirer entende como uma “forma simbólica”? Um dos problemas que surge ao estudar Cassirer é buscar uma definição precisa do que ele entende por forma simbólica e quais são estas. No seu trabalho Essência e efeito do conceito de símbolo, resultado das conferências realizadas em 1921, encontra-se sua definição mais explícita:

por "forma simbólica" há de entender-se aqui toda a energia do espírito em cuja virtude um conteúdo espiritual de significado é vinculado a um signo sensível concreto e lhe é atribuído interiormente. Neste sentido, a linguagem, o mundo mítico-religioso e a arte se nos apresentam como outras tantas formas simbólicas particulares. (1956, p.163)

Para Cassirer, energia espiritual (Energie des Geistes) deve ser compreendida como aquilo que o sujeito efetua espontaneamente, ou seja, o sujeito

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