Mito e Religião
Diferente dos outros livros sobre os quais escrevi aqui, este não se preocupa em contar um ou vários mitos e sim em discutir o significado destes mitos. É um pequeno ensaio que discute o significado e significante dos mitos e da religião entre os gregos.
Jean-Pierre Vernant era um historiador e antropólogo francês, especialista em Grécia Antiga e mitologia grega. Portanto é o livro de um historiador, e por isso a abordagem é histórica e historiográfica. Mas não é recheado de terminologias específicas da área a ponto de deixar texto incompreensível aos leitores leigos.
Religião Cívica
Vernant discorre sobre a tendência histórica que separou os mitos retratados em poemas e no teatro do seu significado religioso. Sobre as mudanças ocorridas e as permanências verificadas durante os séculos, da época Micênica à época Clássica. Da re-utilização dos templos, que mudam a estrutura e interagem com o meio e a época.
Segundo Vernant a religião na Grécia se fundamenta na tradição, passa de geração a geração, nas famílias e através de poetas e contadores de histórias. Ela não tira as pessoas de seus afazeres cotidianos e sim faz parte deles.
A religiosidade grega está ligada aos atos cívicos, dele faz parte e do que a pessoa é ao que ela pertence. Não é uma religião voltada para a salvação individual, neste ou em outro mundo.
Por não ser uma religião dogmática e sim de usos e costumes, com deuses tão complexos quanto os próprios humanos, com poderes, esferas de atuação e de culto que se entrelaçam, a ponto de não se poder ir à guerra sem pedir proteção e ajuda a Atena, a Ares e a Zeus, sem correr o risco de desagradar ou deixar de receber ajuda de algum aspecto necessário à vitória ou sobrevivência às batalhas.
Um dos mais interessantes aspectos apresentados desta religião cívica é o fato do sacrifício de animais ser ao mesmo tempo uma oferenda aos deuses e uma oportunidade para o consumo da carne. Os gregos só