Mito, religiao e ciencia
O próprio autor explica que se trata de um ensaio sobre o assunto, não procurando dirimir todas as dúvidas sobre o tema, tampouco coletar e expor toda a mitologia grega. Como ele mesmo diz, espera que o referido ensaio sirva como uma “chave de leitura para compreender a religião grega.”
O autor também tem por ambição combater os equívocos dos últimos dois séculos na observação e estudo da religião grega a partir de um ponto de vista cristão, ou seja, monoteísta e de uma religião que ainda é viva em relação a uma já morta. Contudo é evidente que para explicar a religião grega o autor precisa fazer analogia com algo, no caso com religiões que nos sejam próximas. Assim, mesmo quando não explicito, o autor usa, todo o tempo, as doutrinas monoteístas atuais como base para explicar como funcionaria o politeísmo grego na antiguidade – apesar de nos alertar para que não façamos comparações desse tipo...
PASSADO E PRESENTE
“Do paganismo ao mundo contemporâneo, foi o próprio estatuto da religião, seu papel, suas funções que mudaram, ao mesmo tempo que seu lugar no indivíduo e no grupo.”
Um dos pontos recorrentes no livro é que além das mudanças do politeísmo para o monoteísmo, talvez a mudança mais fundamental que ocorreu entre o paganismo e as religiões monoteístas atuais é a da forma como a religião atuava nos meios político, social, econômico e cultural. Na Grécia antiga não havia oposição entre o natural e o sobrenatural, entre o divino e o mundano. A vida religiosa estava presente em todos os momentos, assim como os aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais estavam presentes na vida religiosa: “A religião grega não constitui um setor à parte, encerrado nos seus próprios limites e que viria superpor-se à vida familiar, profissional, política ou de lazer, sem se confundir com ela.”
Algumas religiões contemporâneas tentam levar o religioso para todas as esferas do cotidiano, mas como o contrário não ocorre não