Merleau-Ponty e visão
MERLEAU-PONTY E A VISÃO
Fabíola Cristina Alves* biula_alves@yahoo.com.br Maurice Merleau-Ponty, nascido em 1908, é um dos representantes da filosofia francesa das décadas de 1940 e 1950. Durante sua formação acadêmica foi influenciado pelas correntes existencialistas e fenomenológicas. Nas suas pesquisas dedicou-se à investigação do corpo e da visão, entre outros objetos de estudo. Em 1961 faleceu deixando inacabada a obra
O visível e o invisível.
Este artigo introdutório desenvolve-se a partir do interesse que Merleau-Ponty dedicou à visão em sua obra. É notável como o filósofo francês amplia a compreensão acerca do ato de ver recorrendo às suas interrogações filosóficas sobre o mistério que constitui o corpo e que acredita participar do ato criativo do pintor e das ações da vida cotidiana.
A visão não se reduz ao olhar estático. Olhar que congela a imagem em um único espaço de tempo, sem considerar o passado, o presente e o futuro. A visão é envolvida pelo movimento, não havendo um tempo único, mas o “durante” 1. Pela movimentação da pupila alcanço o que é visto, o olhar caminha pelos detalhes do que está visível no mundo. Distante ou próximo do olhar, da localização espacial do corpo observador, a visão ilumina as coisas, juntando aquele que vê com o que é visto.
No segundo capítulo de O Olho e o Espírito, Merleau-Ponty escreve que o corpo, rodeado por certo enigma, consiste em “ser ao mesmo tempo vidente e visível” 2. Ao analisar este enigma notamos que existe um elo que aproxima os dois lados; ou seja, as formas do ser vidente e visível. E que entrecruza os dois lados da visibilidade, tornado aquele que vê um corpo também visto assim como o que é por ele observado. O visível instiga a visão, faz com que esta possa mover-se nele. O olhar que tateia a superfície da tela de uma pintura desvela as cores, envolvida pelo visível da pintura que “parece repousar em si mesmo”3. Para compreender esta singularidade, podemos reconhecê-la no