Medico
A mídia e os medicamentos (Victoza, Rimonabant, Vioxx, Dorflex...)
Paulo Gentil
29/09/2011
Freqüentemente vemos reportagens estrondosas em veículos impressos e na televisão sobre medicamentos milagrosos. São várias páginas e incontáveis minutos dedicados a falar sobre os supostos benefícios de substâncias recém descobertas. Em outros momentos, por outro lado, passam despercebidas iniciativas extremamente interessantes que conseguiram curar doenças por meio de intervenções naturais, medicamentos caseiros, mudanças comportamentais etc. Aí surgem algumas perguntas: como e quem seleciona quais são as intervenções que terão atenção da mídia? Será que há um critério objetivo baseado nos reais benefícios que a sociedade pode obter? Ou será simplesmente uma questão de quem paga para ter atenção?
Há um tempo, foram vistas matérias em revistas de grande circulação e emissoras de TV sobre um medicamento que supostamente serviria para “reduzir a barriga”, o Rimonabant. Prontamente, fui me informar sobre a substância e fiquei alarmado, me questionando como seria possível que veículos de comunicação pretensamente sérios fizessem aquele tipo de matéria. Esclarecendo, o Rimonabant é um medicamento que atua no sistema endocanabinóide, antagonizando o efeito gerado pelo receptor endocanabinóide e, consequentemente, diminuindo o apetite (Isoldi & Aronne, 2008). A famosa “larica” que alguns usuários de maconha sentem após o uso da droga se deve justamente à ativação desse receptor. A minha pergunta é: como o medicamento poderia reduzir seletivamente a gordura da barriga? A proposta apresentada na revista não fazia nenhum sentido! Não havia como o medicamento reduzir a barriga e, o pior, mesmo os estudos que encontraram efeitos na perda de peso mostraram resultados pouco relevantes. Uma revisão dos artigos sobre o tema mostra que a perda de peso com o uso prolongado do Rimonabant ficaria na casa dos 4 quilos, e