Medicamento vs alcool
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Interações de medicamentos com álcool: verdades e mitos
Lenita Wannmacher*
ISSN 1810-0791 Vol. 4, Nº 12 Brasília, novembro de 2007
Resumo
O uso não-médico do álcool é prevalente, acarretando potenciais interações com variados medicamentos, usados sob ou sem prescrição médica. Etanol também está contido em preparações de alguns fármacos, por vezes em concentrações próximas às de um drinque de bebida alcoólica. Tais interações, muitas vezes despercebidas ou negligenciadas, têm maior importância em crianças, gestantes e idosos, por peculiaridades farmacocinéticas e sensibilidades diferenciadas nestes indivíduos, bem como pela polifarmácia, quase uma constante na terapêutica medicamentosa contemporânea. Como todo o problema que é prevalente, vem cercado de mitos que precisam ser diferenciados de fatos concretos sobre as interações entre medicamentos e álcool, embora as evidências clínicas relacionadas a esse tema sejam pobres.
Introdução
E
tanol é farmacologicamente usado como anti-séptico, desinfetante e veículo para fármacos. Também está contido em alguns elixires em altas concentrações, cuja dose para adultos pode produzir níveis séricos similares aos alcançados com a ingestão de um drinque de bebida alcoólica. Deve-se ter muita cautela quando da prescrição dessas preparações a crianças e gestantes. No entanto, seu maior impacto é determinado pelo uso não-médico, tanto pela alta freqüência de emprego como pelos inúmeros problemas médico-sociais a ele associados. A representação social do álcool está mais ligada a esse emprego do que ao entendimento de que é um fármaco, capaz de interagir com outros medicamentos.
A maioria dos adultos em sociedades ocidentais já foi usuária experimental de álcool ou o utiliza ocasional e socialmente. Sobre o uso crônico e abusivo, há um inquérito domiciliar nacional1 com resultados similares ao de levantamento populacional realizado em Porto Alegre2. No