Língua escrita sociedade e cultura Magda Soares 3
Relações, dimensões e perspectivas
Magda Becker Soares
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais
Trabalho apresentado na XVII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, outubro de 1995.
O tema e seus limites
Os elos entre língua escrita, sociedade e cultura podem ser objeto de análise sob diferentes pontos de vista. Dois deles, que não se opõem, mas se complementam, impõem-se de imediato.
Um primeiro ponto de vista, que aqui apenas se menciona e não se privilegia, focaliza, fundamentalmente, a diacronia das conexões entre escrita, sociedade e cultura. Desse ponto de vista, a busca dos elos entre língua escrita, sociedade e cultura voltase para os momentos históricos e aspectos antropológicos da emergência e progressiva socialização da língua escrita em sociedades e culturas, analisando as características da oralidade anterior à escrita, os processos de transição da oralidade à escrita, os processos de mudanças sociais, cognitivas e comunicativas resultantes da introdução da língua escrita em sociedades de “oralidade primária”,1 as práticas de
1A
expressão “oralidade primária” é aqui usada com o sentido que lhe atribui Ong (1982, p. 11): “I style the orality of a culture totally untouched by any knowledge of
Revista Brasileira de Educação
writing or print, ‘primary orality’. It is ‘primary ‘ by contrast with the ‘secondary orality’ of present-day high-technology culture, in which a new orality is sustained by telephone, radio, television, and other electronic devices that depend for their existence and functioning on writing and printing.”
É também com esse sentido que a expressão é utilizada por
Zumthor (1989), que, porém, reconhece, além da oralidade primária e secundária, uma terceira forma de oralidade, a oralidade mista: “...conviene distinguir tres tipos de oralidad, que corresponden a tres situaciones culturales diferentes. Uno, primario e inmediato, no lleva consigo contacto alguno com la escritura; de hecho,