literaturas expressão portuguesas
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Por vezes as maiores surpresas vêm de onde menos se espera. “Na Cidade Vazia” é um desses felizes casos. O filme foi a segunda obra cinematográfica a ser produzida em Angola após a guerra civil e o primeiro filme angolano a ser realizado por uma mulher, nomeadamente, Maria João Ganga. O elenco é composto na sua generalidade por actores e actrizes amadores, tendo efectuado um grande êxito internacionalmente graças à presença em vários festivais de cinema e ao lançamento em DVD pela Global Film Initiative. Confesso que não sou um especialista no cinema de Angola, tendo “Na Cidade Vazia” sido o primeiro filme deste país que tive a oportunidade de visionar e em bom tempo o consegui fazer. Esta é uma pérola cinematográfica, que infelizmente pouca ou nenhuma divulgação teve em Portugal, tendo vencido o Prémio Especial da edição de 2004 do Festival de Cinema Africano, em Milão, para além de ter sido distinguido no Festival Internacional de Filmes de Mulheres em França e no Festival de Paris, onde recebeu o Prémio Especial do Júri. “Na cidade Vazia” estreou originalmente em 2004, no International Film Festival Rotterdam, na Holanda, tendo posteriormente estreado em Angola, e efectuado um sucesso considerável a ponto de ter sido lançado em DVD, numa edição sem extras e bastante simples. O que é curioso é que um dos primeiros filmes angolanos após o período da Guerra Civil vai efectuar uma crítica dura à situação em que se encontra o país, em 1991, através de N´dala, um jovem órfão que vagueia pelas ruas de Luanda em busca de um rumo, nesta “cidade vazia”.
“Na Cidade Vazia” começa com uma sequência poderosa visualmente, ao apresentar o interior de um avião, que percorre a rota do Bié para Luanda. O avião transporta uma religiosa e vários órfãos de guerra, um conjunto de militares e civis e um caixão com um dos mortos no conflito militar. Se o falecido já não tem a oportunidade de exprimir-se, os vivos apresentam um semblante carregado e um ar fatigado e cansado pela