Linguagem e argumentação
Pré-questionamento:
1. O que você entende por argumentação?
TEXTO PARA REFLEXÃO:
Época: Numa entrevista recente, o senhor defendeu o papel da Carla Perez na cultura popular. A bunda é um patrimônio nacional?
DaMatta: A bunda é o outro lado do corpo. A boca fala, a bunda também. Há toda uma tradição dedicada ao papel do ânus no corpo. As coisas localizadas abaixo da cintura, que nas sociedades burguesas foram reprimidas e viraram pornografia, no Brasil são parte de uma região marginal: o grotesco e o cômico. No nosso caso, a bunda fica entre o ridículo, o audaz, o bonito e o grotesco. Depende de como ela surge, de quem a possui, do contexto e de quem a olha. Nesse sentido, resistimos à moral burguesa e criamos uma cultura popular contra-hegemônica. Os porta-vozes de nossa vertente burguesa mais imitativa e ignorante detestam a bunda e o Carnaval. Se são os donos da nossa chamada "cultura", é certamente um paradoxo. O fato é que, para quem gostaria de ter nascido em Paris ou em Londres, a bunda é a expressão de uma total falta de gosto e dever-se-ia expedir uma ordem de prisão para a Carlinha Perez. Pelo menos quando se trata do discurso público, quando quase todo mundo se cobre do manto da racionalidade, da alta (e falsa) cultura e do chamado "bom gosto". Mas o fato é que o Brasil, como o próprio corpo humano, tem frente e fundo, avesso e direito, alto e baixo, cabeça e pé, boca e bunda. Se a nossa alta cultura corre atrás dos corpos magricelas das modelos parisienses e nova-iorquinas, nos subúrbios, no Pelourinho, nas várzeas, nas praias, o que se deseja são as fofuras desses traseiros que simbolizam tanta coisa boa e séria, como por exemplo uma sexualidade menos compartimentalizada e, quem sabe, mais rica e menos essencialista.
Época: É por isso que o senhor defendeu a Carla Perez?
DaMatta: Eu não defendi Carla Perez. Ela não precisa da defesa intelectualizante de um mero professor. Apenas sugeri como hipótese que o sucesso da