Lingua e liberdade
Até que ponto a capacidade de expressão é importante para a definição da cidadania? Pode alguém que não sabe se expressar ter liberdade? Como se garante às crianças o desenvolvimento dessa habilidade tão significativa na conquista da igualdade de direitos?
Com certeza, a liberdade só é efetiva, se for exercida na sua plenitude, quando se detêm, completamente, as habilidades da audição e da fala, e também as de leitura e escrita, o que, sem dúvida, faz aumentar a responsabilidade da educação formal, e, por extensão, a do professor de língua portuguesa.
Na verdade, considerando como idioma aquele que se adquire normalmente na família e nas ruas, pode-se dizer que, em geral, pessoas sem deficiências são capazes de se comunicar, daí terem acesso à liberdade de pensamentos e de ideias. Entretanto, o indivíduo que não teve acesso ao aprendizado da modalidade culta da língua sempre terá sua capacidade reduzida e, um dia, verá que essa dificuldade de ler e escrever acaba por torná-lo um cidadão de segunda classe.
Por isso mesmo, é que o bom professor não pode se furtar a ensinar a seus alunos, na escola, aquela modalidade linguística mais formal, usada normalmente nos textos escritos técnicos e acadêmicos, É o aprendizado desse português diferente que permitirá àqueles que não nasceram em úteros privilegiados a ascensão intelectual que lhes concederá o acesso à verdadeira cidadania.
Assim, não se deve valorizar muito a cansativa discussão intelectual entre gramáticos e linguistas sobre o que se deve ensinar, a qual só afasta a escola dos seus reais objetivos, a velha polêmica sobre o que, dentro de um texto, é certo ou errado. O que cabe mesmo ao professor de língua portuguesa é permitir a seus alunos o acesso à modalidade de língua que ele não conhece, ou seja, o registro formal, a modalidade