Lingua e Liberdade
Não tive acesso às polêmicas páginas do malfadado livro “Por uma vida melhor”, mas até onde eu sei o alvoroço é por conta de um único capítulo que não pretende dizer que o método descritivista de ensino do português (termo técnico que define o método que busca descrever a “língua do povo”) é o único, mas tão somente que ele existe. Negar esta existência é negar a evolução da língua e, mais do que isso, é negar que ela não tem dono, querendo dela apropriar-se.
Desde os primórdios da civilização humana, a língua é instrumento de dominação. Para os poderosos, muitas vezes, só interessa que o povo saiba assinar o próprio nome, para que possa votar. Ou, quando muito, interessa que a população tenha um nível mínimo de leitura para que ninguém possa dizer que desconhece as leis. Aquelas que estão escritas em nossa Constituição, mas eles mesmos, lá em cima, não cumprem.
É por isso que o que me interessa aqui é tentar analisar a questão sem usar o tal livro de bode expiatório para destilar preconceitos. Receita fácil que nossa mídia, mais uma vez, requenta.
Quando fiz Letras na UFRJ, abandonei o curso no 5º período e um dos motivos foi justamente que eu não aguentava mais a priorização exacerbada do método normativista de ensino do português. Também conhecido como “Tia Norma”, é aquele método academicista, parnasiano, purista, em que as gramáticas sabem tudo e o povo, falante da língua, fica à margem do que é certo.
Em estudo de línguas, não pode haver erro maior do que o de não admitir que não existem erros. Você pode estar errado dentro dos padrões da norma culta. E só. O resto são variações.
A língua é de quem a fala e, nesse sentido, a nossa sofreu recentemente uma grande facada com as mudanças