leitura
CASTANEDA, C. Viagem a Ixtland. 4ed. Rio de Janeiro: Record, 1972.
Capítulo 6 – Tornando-se caçador
“Sexta-feira, 23 de junho de 1961
Assim que me sentei, bombardeei Dom Juan com perguntas. Ele não me respondeu e fez um gesto impaciente com a mão, para eu me calar. Parecia estar num estado de espírito sério.
— Estive pensando que você não mudou em nada, nesse tempo em que esteve tentando aprender sobre as plantas — disse ele, num tom de voz acusador.
Começou a passar em revista, em voz alta, todas as modificações de personalidade que me recomendara. Disse-lhe que tinha pensado muito seriamente no assunto e tinha chegado à conclusão de que não poderia fazê-las, pois todas contrariavam meu íntimo.
Ele respondeu que simplesmente pensar nelas não bastava, e que tudo o que ele me dissera não fora dito de brincadeira. Tornei a insistir que, embora eu tivesse feito muito pouco no sentido de ajustar minha vida pessoal às idéias dele, eu realmente queria aprender o uso das plantas.
[Dom Juan] Respondeu que as minhas intenções simplesmente não bastavam e que aprender a respeito [de plantas] era um assunto sério. Parecia que não havia mais nada a dizer.
Mas, de tardinha, preparou uma nova prova para mim; apresentou um problema sem dar qualquer indicação para a sua solução: encontrar um lugar ou ponto benéfico na área bem defronte da porta da casa dele, onde sempre nos sentávamos para conversar, um lugar onde eu pudesse supostamente sentir-me perfeitamente feliz e revigorado. Durante a noite, enquanto eu tentava encontrar o “ponto”, rolando pelo chão, por duas vezes percebi uma mudança de coloração no chão de terra batida, uniformemente escuro, da área designada.
O problema me deixou exausto e eu adormeci num dos lugares em que tinha observado a mudança de cor. De manhã, Dom Juan me acordou e me comunicou que eu tinha tido uma experiência de grande êxito. Não só eu encontrara o ponto