leitura de sao bernardo
Zenir Campos Reis
Tanto S. Bernardo quanto Angústia impõem à leitura a exigência de considerar cada palavra à luz da totalidade do romance. De fato, essa exigência se propõe para todo grande texto literário, mas nestes dois romances, de estrutura circular, parece mais explícita. Apenas na segunda leitura fica patente que o início condensa as tensões que a narrativa ainda vai desdobrar no pormenor. Conquista, valorização e decadência da fazenda e do fazendeiro ocultam-se em todas as frases de S. Bernardo, como o itinerário completo de Luís da Silva, ocultam-se ou revelam-se desde as primeiras linhas de
Angústia.
Pode ser produtiva uma leitura de S. Bernardo 1 pelo viés da comunicação.
Consideremos da primeira página dele:
"Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho. Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre
Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.
Estive uma semana bastante animado, em conferências com os principais colaboradores, e já via os volumes expostos, um milheiro vendido graças aos elogios que, agora com a morte do Costa Brito, eu meteria na esfomeada Gazeta, mediante lambujem. Mas o otimismo levou água na fervura, compreendi que não nos entendíamos." (p. 7)
O segundo parágrafo apresenta admiravelmente o processo da divisão de trabalho capitalista, na etapa fordista e taylorista, em seus traços fundamentais: separação entre planejamento e execução, financiamento e apropriação privada. Tudo expresso como se
fosse