Lateralização cerebral
Ao longo da história das neurociências muitos dos conhecimentos acerca dos fundamentos biológicos dos comportamentos humanos têm surgido estreitamente ligados ao conceito de lateralização hemisférica ou dominância cerebral, isto é, às diferenças de funções entre os dois hemisférios do cérebro.
Na verdade, a organização do cérebro em dois hemisférios, direito e esquerdo, parece ter como corolário que cada uma destas suas partes tem a seu cargo os acontecimentos motores e sensoriais que ocorrem na metade oposta (contralateral) do corpo e do espaço. Esta regra geral, se bem que um tanto esquemática e redutora (hoje reconhece-se que a complexidade do cérebro, um super-sistema aberto e que integra em si muitos outros sistemas diferenciados e complexos não se compadece com estes "reducionismos" simplistas) levou à ideia de que cada indivíduo, dotado de um grande potencial cerebral, utiliza o seu cérebro de uma forma particular. Assim, enquanto alguns se apoiariam mais nas capacidades do seu hemisfério esquerdo, parecendo dar prioridade à análise, ao raciocínio e à lógica, outros, pelo contrário, mais apoiados no seu hemisfério direito, dariam prioridade à síntese, à intuição, à visão global e à imaginação1.
Esta noção de "dominância cerebral" apresenta um interesse teórico considerável e coloca uma multiplicidade de questões quanto aos seus caracteres, à sua origem, ao seu significado2 e, embora tenha uma "história já antiga", funcionalmente associada com a "história da afasia"3, só recentemente foram enunciados e abordados com clareza os seus fundamentos neurobiológicos, sob o impulso do neurologista americano Norman Geschwind4 que, aliando os seus conhecimentos enciclopédicos a um espírito de síntese e intuitivo fora do comum, soube abrir um amplo campo de reflexões e de investigação e fazer, com razão, do conceito de dominância cerebral um ramo de parte inteira das Neurociências que em muito ultrapassa o