Jamais Fomos Modernos
Em seu renomado livro “Jamais Fomos Modernos – Ensaio de antropologia simétrica”, o autor, Bruno Latour procura definir aspectos e conceitos do que constitui a modernidade. No segundo capítulo do livro, denominado “Constituição”, o autor elabora o que é a modernidade através de dois conjuntos de práticas que resultam no que ele intitula a “constituição moderna”. A modernidade é demasiadamente vista como algo traçado através do humanismo, não levando em conta aspectos da não-humanidade. Para Latour, a palavra “moderno” designa dois conjuntos de práticas que, para obterem a sua maior eficácia, devem permanecer em profunda distinção. O primeiro destes conjuntos é o da mediação, que permite a mistura de seres completamente diferentes, criando o que se chama de “híbridos” de natureza e cultura. Aqui, o autor utiliza o termo “redes” para elaborar a conexão destes diferentes aspectos. O segundo conjunto é o da purificação, e este cria duas zonas ontológicas distintas, a de humanos e a de não-humanos. Finalmente, a “constituição moderna” é resultante da interação entre ambos os conceitos, e marca a principal diferença entre humanos e não humanos, definindo as “suas propriedades e suas relações, suas competências e seus agrupamentos” (pg. 21). Assim, o projeto de reforma de Latour refere-se a uma grande mudança de paradigma que superaria a distinção ontológica previamente sugerida entre humanos e não-humanos, que é o elemento fundador do que se define como modernidade. Bruno Latour inicia o segundo capítulo de seu livro com um estudo entre políticos e cientistas, reforçando que ao reestabelecer o entendimento comum que separa poderes naturais e políticos, deixa-se de ser moderno. O autor atribui ao antropólogo a tarefa de reestabelecer essa simetria e descrever a distinção entre o humano e não-humano e o que os reúne. Para descrever a constituição apresentada no texto, Latour utiliza-se da controvérsia dos