Resenha- Jamais fomos modernos
Resenha para a disciplina Antropologia Contemporânea PPGAS-UFRN
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução de Carlos lrineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.
O ensaio se propõe a analisar a intrincada relação de separação entre natureza (campo pertencente às ciências experimentais modernas) e cultura, separação esta na qual se constituiu a modernidade. A divisão entre natureza e cultura (a Grande Divisão) aparece então como pressuposto na prerrogativa da ciência moderna de dizer respeito às coisas-em-si. O argumento é de que a ciência é fruto de interações sociais, e por isso não pode escapar ao campo de estudo antropológico.
O que caracterizaria a modernidade seria um processo de “purificação”, constituído de uma construção da natureza separada das relações sociais e culturais, o campo humano ou do sujeito em oposição ao campo não humano ou das coisas. No entanto, essa separação total é uma crença, não uma realidade. Paralelamente ocorre o processo de “hibridização” ou “mediação”, a geração dos híbridos, mistura entre natureza e cultura (a exemplo do aquecimento global), através das chamadas redes. Os híbridos são também denominados “quase-objetos” (seguindo Michel Serres) em razão de não se encaixarem dentro das categorias propostas pela modernidade, nem como partes puras da cultura nem como partes puras da natureza.
Somente o processo de purificação é assumido abertamente pela modernidade. Ela nega o processo de geração dos híbridos ao mesmo tempo que permite que ele continue; de fato, toda a modernidade se daria em um espaço intermediário cuja existência não pode ser assumida como verdadeira sem prejuízo si. Portanto, a modernidade seria um ideal (ainda que com efeitos revolucionários sobre o processo histórico), e não uma realidade. Traçar o espaço de simetria entre as duas ordens implica em um abandono da modernidade, um retorno à indiferenciação que reinava