Introdu O
A câmera fotográfica apontava diretamente para eles. Ela bem que podia estar ali para registrar o momento, afinal, podia-se dizer que aquele era um momento histórico. Mas não era uma câmera de verdade. Ao menos, não funcionava mais como uma câmera de verdade. Estava ali artisticamente colocada naquele canto para decorar a sala de reuniões.A câmera foi trazida para a empresa por Ricardo Augusto Monegaglia, em 1977. Ela havia pertencido a um fotógrafo “lambe-lambe” dos anos 50, que tirava fotos dos paulistanos na Praça da República. Ricardo resolveu trazê-la para a empresa porque, além de se tratar de uma peca de antiguidade com valor histórico, ela seria um excelente símbolo do que representava sua empresa – um instrumento de “captura” das emoções. Isso mesmo, sua empresa, assim como aquela câmera, teria a missão de “guardar” emoções. O que não se sabia ao certo é se quando Ricardo a colocou ali, escolheu sua posição com a intenção consciente de apontá-la para a mesa de reuniões, como que desejando que ela “capturasse” os episódios mais importantes da empresa, vividos ali naquela sala ou aquilo era uma simples coincidência. Esse detalhe jamais seria revelado, uma vez que não havia mais como perguntar isso a Ricardo. Infelizmente ele estava morto. Ricardo Monegaglia que havia comandado a empresa ao longo de 30 anos, havia falecido repentinamente num acidente de carro. Agora, o que todos se perguntavam – funcionários, fornecedores, clientes e concorrentes – era o que seria da empresa. Naquela manhã, uma terça-feira de fevereiro de 1997, no dia seguinte ao enterro de seu pai, Ricardo Filho, de 28 anos, Rodolpho de 27 anos e Rodrigo de 26, estavam reunidos na sala de reuniões sob a mira daquela velha câmera fotográfica que, infelizmente, não poderia registrar aquele que era sim um momento histórico. Naquela reunião seria decidido o destino da Cartona. Não foi difícil para os irmãos chegarem a um consenso. Nem chegou a passar pela cabeça de nenhum deles