indios
Brasil: O Século XVI
MANUELA CARNEIRO DA CUNHA*
H
á vários discursos sobre os índios no século XVI: toda uma literatura e uma iconografía de viagens, com desdobramentos morais e filosóficos firma seus cânones ao longo do século; um corpus legiferante e de reflexão teológica e jurídica elabora, passada a era do escambo, uma ordenação das relações coloniais; paralela à conquista territorial, a conquista espiritual, por sua vez, se expressa sobretudo em um novo gênero, inaugurado pelos jesuítas e destinado a obter grande sucesso: as cartas, que se fazem cada vez mais edificantes. Excepcionalmente, temos o relato de um colono, e no finzinho do século, o olhar curioso da Inquisição na Bahia e em Pernambuco.
Os índios do Brasil são, no século XVI, os do espaço atribuído a
Portugal pelo Papa no Tratado de Tordesilhas, ele próprio incerto em seus limites, algo entre a boca do Tocantins a boca do Parnaíba ao norte até São Vicente ao sul, talvez um pouco além se incluirmos a zona contestada dos Carijós. Os índios do rio Amazonas, na época sobretudo um rio "espanhol" , não contribuem propriamente para a formação da imagem dos índios do Brasil. Essa imagem é, fundamentalmente, a dos grupos de língua Tupi e, ancilarmente,
Guarani. Como em contraponto, há a figura do Aimoré, Ouetaca,
Tapuia, ou seja aqueles a quem os Tupi acusam de barbárie.
Primeiros Olhares
Os portugueses, fascinados pelo Oriente, pouco especularam sobre o
Novo Mundo. Nem objeto de conhecimento ou reflexão, nem sequer ainda de intensa cobiça, o Brasil passou em grande parte despercebido durante os primeiros cinqüenta anos de seu contato. Camões
*Manuela CarneirodaCunha é professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. É autora de Antropologia do Brasil - Mito,
História e Etnicidade (São Paulo, Brasiliense/Edusp, 1986).
dedica-lhe quatro magros versos - evocando o pau brasil - no último