Identidade Nacional E Identidade Cultural
Eurídice Figueiredo - Universidade Federal Fluminense/CNPq
Jovita Maria Gerheim Noronha - Universidade Federal de Juiz de Fora
A noção de identidade
O debate sobre a questão das identidades na modernidade tardia é complexo porque, ao se partir de uma definição que na sua origem tem um uso ontológico, para empregos cada vez mais fluidos, sem contornos definidos, que vão do sociológico ao antropológico, do político ao cultural, do literário ao existencial, encontram-se problemas que se referem a visões essencialistas e até críticas que negam a possibilidade de se conceber a existência de uma identidade fixa. No mundo contemporâneo, fala-se, cada vez mais, de identidades plurais, ou, ainda, de identificações, que teriam o caráter provisório porque em constante devir. Stuart Hall aponta, para descrever a evolução do conceito de identidade, três concepções de sujeito: o sujeito iluminista, o sujeito sociológico e, finalmente, o sujeito pós-moderno. A identidade estaria, tal como definiu Charles Taylor, estreitamente vinculada à idéia de reconhecimento:
[Ela] designa algo que se assemelha à percepção que as pessoas têm de si mesmas e das caracteristicas fundamentais que as definem como seres humanos. A tese é que nossa identidade é parcialmente formada pelo reconhecimento ou pela ausência dele, ou ainda pela má percepção que os outros têm dela (...). O não-reconhecimento ou o reconhecimento inadequado pode prejudicar e constituir uma forma de opressão, aprisionando certas pessoas em um modo de ser falso, deformado ou reduzido (Taylor, 1994, p. 41-42).
O termo usado nesse sentido é recente e resulta, segundo Taylor, da conjunção de duas mudanças. De um lado, o fim das hierarquias sociais do Antigo Regime, baseadas na honra (honneur), e implicando, conseqüentemente, na desigualdade e na exclusão, já que a condição necessária de sua existência é que nem todos tinham acesso a ela. De outro, a noção moderna de dignidade,