História da Cidadania
Pensar a cidadania no âmbito de nosso próprio Estado-nacional ou globalmente é um imperativo imposto pela realidade em que vivemos. Mas qual papel pode caber ao historiador da Antiguidade nessa reflexão?
É verdade que os primeiros pensadores que se debruçaram sobre a definição do que hoje entendemos por cidadania buscaram inspiração em certas realidades do mundo greco-romano, que conheciam por intermédio dos clássicos transmitidos pela tradição manuscrita do Ocidente: a ideia de democracia, de participação popular nos destinos da coletividade, de soberania do povo, de liberdade do indivíduo. A imagem que faziam da cidadania antiga, no entanto, era idealizada e falsa. A cidadania nos Estados- nacionais contemporâneos é um fenômeno único na História. Não podemos falar de continuidade do mundo antigo, de repetição de uma experiência passada e nem mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo contemporâneo ao antigo. São mundos diferentes, com sociedades distintas, nas quais pertencimento, participação e direitos têm sentidos diversos.
Se há contribuição cabível ao historiador da Antiguidade, é justamente aproximar dois mundos diferentes, mantendo sempre a consciência dessa distinção, e evidenciar processos históricos que podem iluminar os limites e as possibilidades da ação humana no campo das relações entre indivíduos.
O mundo greco-romano permite-nos isso, com a vantagem de descortinar um panorama histórico de longa duração, com amplo painel de sucessos e fracassos da ação humana sobre a sociedade. Talvez nos auxilie a projetar um futuro desejável para a cidadania contemporânea e nos sirva de alerta para os possíveis percalços.
Comecemos pela diferença mais crucial entre presente e passado, a da própria forma de existência social. O mundo greco-romano não se estruturava como os Estados-nacionais contemporâneos, mas de modo bem distinto, como cidades-estados. Aqui defrontamo-nos com um primeiro problema: é