Guiné-bissau
Resumo
O conflito na Guiné-Bissau deve-se principalmente às políticas de desenvolvimento erradas durante os anos de governação do PAIGC. Políticas que visavam a reprodução social dos dirigentes do partido e da classe-Estado em geral. Esse objectivo conduziu o PAIGC à implementação de uma estratégia de desenvolvimento que não teve em conta a população. Durante esse período, a maior parte da sociedade, especialmente a residente no interior, foi marginalizada. Na Guiné pós-colonial a marginalização esteve ligada, em parte, à continuidade do modelo centro-periferia herdado do colonialismo. Este modelo rejeita a cultura tradicional, vista pela élite do país como atrasada. Nesse contexto, o Estado tratou a sociedade periférica como sendo-lhe exterior. Por seu lado, a grande maioria da sociedade encarou o Estado como uma simples emanação do centro - uma instituição exclusivamente com raízes na sociedade central. As práticas do Estado pós-colonial na Guiné-Bissau traduzem os principais interesses dos dirigentes do PAIGC e da classe-Estado em geral. Para inverter essa tendência, as Forças Armadas, o elo privilegiado entre a sociedade central e a periférica, reagiu para restabelecer a igualdade e a justiça social no país.
Enquadramento
A Guiné-Bissau teve uma particularidade histórica que foi a obtenção da independência política, depois de 12 anos de luta armada para a libertação nacional. A este propósito Emmanuel Ogbolu afirmava: «O Estado da Guiné-Bissau, mais do que qualquer outro Estado novo independente, deve muito à sua sociedade» (1).
Esta singularidade histórica na Guiné-Bissau, originou fortes expectativas por parte da população guineense e da comunidade internacional, pois esperavam que o processo da condução e gestão da luta armada desenvolvido pelo PAIGC pudesse proporcionar o surgimento de um Estado pós-colonial “ideal”, servindo deste modo de referência “pedagógica” para outros países africanos,