LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA Embora a linguística seja uma ciência com mais de cento e cinquenta anos de idade, ela é ainda pouco conhecida, não só pelo público leigo, mas também por boa parte do meio acadêmico. Muitos confundem a linguística com a gramática, por acharem que ambas tratam do mesmo objeto: a língua. Outros, adeptos da gramática tradicional, muito mais antiga que a linguística, veem nesta última uma ameaça à “pureza da língua”, por ser, segundo eles, uma disciplina por demais permissiva e tolerante com os “erros gramaticais dos falantes incultos”. Isso tudo demonstra que ainda hoje a linguística vive cercada por uma aura de desconhecimento e preconceito, fruto, sem dúvida, da ignorância geral sobre o assunto. Por isso, é oportuno falarmos um pouco sobre linguística e sobre gramática. A gramática, tal qual a conhecemos hoje, foi criada no século IV a.C. (...) e foi definida como “a arte de escrever com correção e elegância” e tinha um caráter eminentemente normativo, isto é, era um conjunto de regras a ser seguidas por todos aqueles que pretendessem escrever bem. (...) Com o passar do tempo, a gramática fixou-se como a disciplina que determina quais formas da língua são corretas e quais não, sempre, é claro, do ponto de vista da linguagem tal qual é usada pelos falantes eruditos. (...) Se hoje a gramática da língua portuguesa recomenda ou até impõe certas construções (como fá-lo-ei ou dir-lho-ás, por exemplo) que o povo em geral absolutamente não usa, é em grande parte porque nossa gramática ainda se baseia no uso linguístico do século XVII. Por sua própria natureza, a gramática é uma disciplina normativa, isto é, que impõe regras e determina como se deve ou não falar ou escrever. Nesse sentido, ela não é uma ciência, pois não é sua função estudar e descrever a língua em si, tal qual ela é falada, mas sim estabelecer, segundo critérios às vezes bastante arbitrários, como os falantes cultos devem falar ou escrever. Por outro lado, a linguística é uma