Gramáticas normativas e variações linguísticas: uma convivência pacífica?
UMA CONVIVÊNCIA PACÍFICA?
Toda criança aprende naturalmente a língua de sua comunidade linguística, assim, quando ela chega à escola, já tem grande domínio das habilidades de interação oral e está disposta a compartilhar todo conhecimento adquirido na escola.
Um aspecto que escapa muitas vezes no ensino da Língua Portuguesa é o fato de que o aluno já chega à escola falando uma variante da língua e que a escola, querendo ensinar a norma culta, esquece-se de considerar todo a gama de conhecimentos prévios trazido pelos alunos, tentando apagar tudo que classifica como “errado” da mente dele.
Esse fato muitas vezes intensifica um dos preconceitos mais obscuros que enfrentamos e que não é passível de uma sanção legal por parte das autoridades: o “preconceito linguístico”, que segundo Bagno (2008) “está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada no curso da história, entre língua e gramática normativa.”.
O autor, ao pensar nos entraves que ainda excluem as variantes linguísticas da sala de aula, traz alguns mitos que permeiam nosso imaginário sobre nosso idioma. Dentre eles, a questão da unidade da língua, de que o brasileiro não sabe falar português, de que português é difícil e de que se deve falar como se escreve, por exemplo. Somos, ainda hoje, culturalmente reféns de uma gramática normativa muito distanciada da norma culta falada e escrita.
A língua, como fato social, é um fenômeno ao mesmo tempo dinâmico e conservador. É conservador porque necessita manter certo grau de uniformidade para permitir a comunicação em uma dada comunidade lingüística; é dinâmico porque se modifica com o tempo, estando também sujeito às influências regionais, sociais e estilísticas responsáveis pelos processos de variação lingüística, como explica Preti (1994). Tais processos, que constituem o objeto de estudo privilegiado da sociolingüística, ramo da lingüística que estuda as relações entre linguagem e sociedade, são