monteiro lobato
Esta dissertação dedica-se ao estudo do discurso de Monteiro Lobato acerca da língua do Brasil no alvorecer do século XX. Os gestos de definição de uma identidade nacional, que, entre outros aspectos, realçaram a questão linguística, começaram a ser esboçados no século XIX, com a Independência política do Brasil, em 1822. Os primeiros tempos da polêmica em torno da língua brasileira foram urdidos principalmente pelos escritores românticos que reivindicavam a emancipação da literatura feita no país em relação aos modelos portugueses e europeus de um modo geral. Não bastava nacionalizar os temas tratados pela literatura brasileira em processo de constituição; era preciso nacionalizar também a língua do fazer literário. Obviamente, a campanha romântica pela nacionalização da literatura, que alojava, em seu centro, a bandeira da nacionalização da língua, não se fez sem a resistência dos conservadores. Como bem afirma Bosi (1992, p. 177), se, por um lado, o Brasil se emancipava, levantava a cabeça e dizia seu próprio nome, por outro, Portugal “resistia à perda de seu melhor quinhão”. Pinto (1978, 1981), reunindo um vasto arquivo de textos sobre a questão da língua brasileira, produzidos por escritores, gramáticos e intelectuais dos mais variados campos desde o século XIX, vislumbra duas posições discursivas na interpretação do fenômeno patente da diferenciação do português falado no Brasil em relação à escrita literária e às normas gramaticais lusitanas. A autora refere-se a elas como posição separatista, marcada pela defesa aguerrida do cisma gramatical entre a ex-colônia e a metrópole, e legitimista, marcada pelo radicalismo purista, reconhecendo, contudo, haver entre elas posições conciliatórias. Enquanto os separatistas, imbuídos do espírito libertário que levara à independência política, interpretavam a diferenciação linguística como a formação de uma nova língua, os legitimistas lutavam para salvaguardar o português clássico da ameaça dos