Graduando
Afinal de contas, ele é um dos herdeiros de um cinema antigo ("pré-televisão") que vivia da popularidade dos seus actores, mas também desse misto de crueldade e ternura com que sabia abordar os grandes temas sociais, desde a reconversão económica pós-Segunda Guerra Mundial até à evolução dos usos e costumes durante a década de 60.
Estamos a falar de um cinema que, desde os tempos do mudo, cultivou os valores do grande espectáculo. Bastará lembrar o caso emblemático de Cabiria (1914), de Giovanni Pastrone, verdadeiro monumento cinematográfico apresentado no Festival de Cannes de 2006 numa cópia restaurada com o patrocínio de Martin Scorsese. Quando, na primeira metade da década de 40, são lançadas as bases do neo-realismo, isso decorre de uma outra dimensão vital: a capacidade de o cinema italiano funcionar como espelho multifacetado das convulsões históricas, contribuindo decisivamente para a formação de uma consciência nacional. Títulos como Roma, Cidade Aberta (1945) e Paisà (1946), ambos de Roberto Rossellini, ou LadrõesdeBicicletas (1948), de Vittorio De Sica, são verdadeiras histórias de resgate, contribuindo para a superação emocional das muitas formas de destruição herdadas da guerra.
O cinema italiano manteve ao longo das décadas de 60/70, nomeadamente no mercado português, uma genuína popularidade. A comédia, mais ou menos cruzada com o melodrama, foi um género exuberante, através de vedetas como Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni ou Claudia