Globalização e saúde global
GIOVANNI BERLINGUER
Globalização? Qual?
F
em globalização. As finanças, a informação simultânea, as migrações de povos, o crime organizado, os conhecimentos científicos, a tecnologia, os sistemas de poder, a produção e o trabalho humano, tudo isso se globaliza. Pode-se exaltar a globalização como oportunidade de crescimento econômico e cultural dos povos. Pode-se ainda criticá-la em razão dos que a conduzem, ou de como a conduzem, ou dos rumos que toma. Mas ela é irrefreável, sobretudo por corresponder a muitas exigências dos seres humanos. Essa afirmação pode sofrer duas objeções: uma vem sustentar que a globalização da economia corresponde hoje à acumulação de capital e de poder em poucas mãos e ao predomínio das finanças internacionais sobre qualquer outro interesse; outra, é que o conceito e a natureza da globalização foram criados e difundidos por forças neoliberais, com a intenção de levar os povos a crer que não há alternativa e, assim, de negar a função da política e da democracia.
ALA - SE MUITO HOJE
Ambas as objeções baseiam-se em fatos reais. Pode-se acrescentar que o ganho de capital em nossos dias passou a não respeitar nada (a vida, a saúde e até mesmo as partes do corpo humano vão se transformando em mercadoria) e que o credo neoliberal é imposto aos povos com as regras do fundamentalismo monetário, que não admite dissidências. É o que se evidencia quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional subordinam sua ajuda ao compromisso dos governos de desmantelar os sistemas de saúde pública e previdência social. As conseqüências dessa opção (e ainda mais, dos crescentes desníveis de renda, de educação e de poder entre as classes e entre os povos) traduziram-se por quase toda a parte, nos últimos 20 anos, em aumento das desigualdades de níveis de saúde, documentadas por estatísticas eloqüentes, que se podem traduzir em milhões de existências humanas truncadas ou prejudicadas. Deve-se acrescentar,