funk é arte
abr 2011
FUNK É ARTE?
Marcilio Duarte
Mais do que uma pergunta, essa provocação surge de uma polêmica que, a rigor, não deveria existir. No entanto, ela reside no hábito de boa parcela da sociedade pensar e aceitar arte e cultura de acordo com padrões pré-estabelecidos pela grande mídia comercial e pelo mercado de cultura, por sua vez formados por executivos, produtores e players de uma classe dominante, ou seja, a classe que conduz os mega-negócios da indústria cultural. Assim, a amplitude do conceito de arte e cultura é sujeitado a uma visão reducionista, dicotômica e, em muitos aspectos, preconceituosa, que divide em classes as mais diversas formas de expressão. Dado este fato, estamos condicionados a enxergar cultura como “superior” e “inferior”,
“erudita” e “popular”, “de periferia” e “urbana”, “antiga” e “moderna”, sempre modulando o raciocínio em uma lógica binária.
Esse processo pode ocorrer consciente ou inconscientemente, atingindo a todos que fazem parte do grande ciclo da produção cultural. É comum vermos não apenas pessoas desinformadas, mas artistas e profissionais da cultura, seja na condição de gestores ou produtores culturais, sentirem dificuldades em abolir esse tipo pensamento, até porque ele é pouco ou mal discutido. O desafio, portanto, é adotar uma visão de cultura que se liberte das amarras do preconceito. Uma visão capaz de enxergar a musica do Funk como um elemento cultural autêntico, uma célula viva em nossa sociedade, com sua representatividade e modo de ser.
Mas a questão que abre este artigo tem uma resposta: o Funk carioca é, sim, arte e ao mesmo tempo cultura. Que tipo de cultura? Que tipo de arte? Isso, na verdade, não deveria importar muito, até porque seria mais uma forma de classificação do que a essência da arte em si. Bastaria, para o Funk, o fato de ser reconhecido como tal. No entanto, se quisermos problematizar o assunto e enriquecer o debate, alguns aspectos devem ser observados:
1) Arte