Fraudes
Um novo estudo acusa a empresa farmacêutica Merck de ter manipulado dezenas de artigos científicos sobre o Vioxx (rofecoxibe), medicamento que a Merck fabricava e que acabou sendo recolhido do mercado por causar problemas cardíacos. Segundo o levantamento, as pesquisas sobre o Vioxx eram produzidas diretamente a mando do fabricante, mas os autores "oficiais" dos estudos eram cientistas independentes recrutados pela Merck apenas para assinar os artigos.
A prática é conhecida como "ghost-writing" (autoria-fantasma), por analogia com o que acontece com muitos livros, e é considerada antiética pelas publicações científicas. Também daria margem a uma interpretação enviesada dos resultados das pesquisas, pois dificilmente o fabricante de um medicamento incluiria informações negativas sobre seu produto numa pesquisa produzida internamente. Tanto a Merck quanto os supostos "autores-fantasmas" negam a manipulação.
O Vioxx, antiinflamatório prescrito pelos médicos para tratar artrite e dor, deixou de ser comercializado em 2004 por causa dos efeitos colaterais. A Merck teve de pagar quase US$ 5 bilhões de indenização aos pacientes e suas famílias. O material interno da impresa recolhido durante o processo foi usado pelos autores do novo estudo na revista médica "Jama" (Journal of the American Medical Association).
Espaços em branco
A equipe liderada por Joseph S. Ross, da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, descobriu, entre outros detalhes, o rascunho de uma pesquisa sobre o Vioxx que ainda não tinha autor principal. Nela, estava escrito apenas "Autor externo?" no cabeçalho - sinal de que, segundo Ross, a Merck ainda estava à caça de um grande nome da comunidade científica para assinar o estudo, mesmo depois que o artigo já estava pronto.
A própria "Jama" chegou a publicar um dos estudos suspeitos de "ghost-writing". Os autores avaliaram 96 publicações sobre o Vioxx, incluindo