Fontes formais
A TRAGÉDIA DE ANTÍGONA SOB A ÓTICA DE GÊNERO
Jeane Félix da Silva*
Este texto tem por objetivo fazer uma interpretação da peça Antígona, de Sófocles, visando, a partir da reflexão sobre o papel da mulher na tragédia grega, uma análise do dilema moral proposto no texto, enfatizando o agir da mulher numa sociedade extremamente machista.
A proposta aqui, não é a de analisar a tragédia grega segundo a perspectiva tradicional de Aristóteles, e sim, uma análise a partir da ótica de gênero, ou seja, o estudo do comportamento de Antígona à luz do Feminismo Histórico. Embora o texto seja um clássico, o estudo do comportamento, arrojado e desafiador, de Antígona, será observado com o olhar de uma mulher do século XXI numa aproximação temporal que é possível pela atualidade da peça de Sófocles.
Após a morte de Édipo Rei, suas filhas, Antígona e Ismene retornaram à cidade de Tebas onde os irmãos Etéocles e Polinices disputavam o trono. O acordo político feito entre os dois irmãos definia que eles se revezariam no poder por períodos de um ano. Etéocles seria o governante no primeiro ano e Polinices no segundo, e assim sucessivamente. Após o período de um ano, o acordo de revezamento entre os irmãos não aconteceu, pois Etéocles não cumpriu sua parte no acordo e não passou o governo às mãos do irmão. Etéocles e Polinices terminam mortos, um pela mão do outro.
Tebas, passa então, a ser governada por Creonte, que determina: para Etéocles um funeral com todas as homenagens cabíveis a um ex-governante tebano, visto que ele morreu lutando por sua cidade; e para Polinices, que era considerado um traidor, condenou-o a não ser sepultado, prometendo a morte a quem o enterrasse e desobedecesse assim, a lei dos homens**. Antígona, desrespeitando essa lei, enterra o irmão traidor, sem a ajuda da irmã Ismene. Para Leiria (2003, p. 2) “cria-se, dessa maneira, um conflito existencial entre as irmãs Antígona e Ismene, pois Antígona defende que a lei dos deuses deve prevalecer