Filosofia Política
Como bem se sabe, há uma série de dificuldades da utilização da razão para conhecer o mundo empírico. Convém lembrar, porém, o que já se tornou óbvio: qualquer interpretação é seletiva e, logo, em alguma medida ela é aleatória1. Não por outro motivo, é possível o surgimento de novas ciências. A geografia, por exemplo, enquanto campo de conhecimento específico, é uma ciência relativamente nova, não porque a modificação da paisagem pela sociedade – no caso da chamada “geografia humana” – ou os acidentes geográficos e as estruturas geológicas são recentes. O mesmo ocorre com diversas novas ciências. Obviamente, a novidade não está naquilo que pode- mos chamar de mundo empírico, de mundo sensível, de fenômeno ou por qualquer equivalente. O surgimento de novos campos do conhecimento ocor- re, em grande medida, devido às mudanças da percepção do mundo pelo homem: aquilo que era ignorado ou era percebido como algo que prescindia de sistematização, passa a ser considerado importante e, na medida em que não se pode tratar do tema com profundidade dentro de categorias já utiliza- das para pensar outros assuntos, surge o interesse pela criação de uma nova ciência. A discussão não é diferente para a política. Podemos identificar momen- tos específicos a partir dos quais se passa a buscar uma organização social planejada, a partir do que se tenta estabelecer uma técnica na política. Assim, o tema original da política é a organização social e o desenvolvimento dessa questão levou às considerações sobre o funcionamento das instituições, so- bre as relações entre os povos e, por fim, sobre uma paz universal ou uma ordem global – dependendo das tradições teóricas que temos em mente. As considerações sobre a “natureza da alma” ou sobre o modo de agir do ser humano estão aí incluídas nesse primeiro momento, já que não se trata apenas de lidar com instituições que funcionam como um autômato, como um mecanismo de relógio que garante a convivência social de modo eficaz.