FILOSOFIA POLITICA
Eu também não tentarei definir "a filosofia". Considero que se trata de uma" disciplina" historicamente constituída, e, como toda disciplina, constitui um feixe mais ou menos coerente e mais ou menos homogêneo (ou heterogêneo) de questões, de problemas, de conceitos, de tipos de discurso, de formas de ensinamento, de modos de raciocínio etc.
Uma disciplina é também um conjunto de normas (como se fala de um inspetor de "disciplina" em uma escola). Esta dupla face das disciplinas reenvia justamente ao aspecto, pragmático da linguagem. Por exemplo, a "filosofia" não existiria se não houvesse escola de filosofia, universidades onde ela é ensinada; ela não existiria se não houvesse programas, exames etc.
E como Aristóteles já o sabia, o exercício da filosofia supõe lazer e uma sociedade onde existam espaços relativamente protegidos da violência, da miséria e da urgência.
Deste ponto de vista, se nós nos interrogamos sobre a significação que pôde desempenhar a filosofia em nossa cultura ocidental, reconheceremos em primeiro lugar sua emergência, contingente, no contexto privilegiado da Grécia antiga (séc. V a.C.).
Os desenvolvimentos múltiplos desta formação discursiva original revelaram alguns traços que determinaram (ou inflectem) algumas das orientações maiores de nossa história: exercício tolerante (apesar de alguns eclipses) de um pensamento crítico que, sobre o modelo socrático, não cessa de interrogar todos os dogmatismos, uma pretensão, algumas vezes desmesurada, à racionalidade, pretensão que poderia dar conta do fato que desde a Antiguidade existiu um estreito elo entre a filosofia e a ciência; uma tentativa, enfim, de dar conta de maneira crítica e racional de problemas existenciais: questões do viver bem, da liberdade, da existência de Deus etc. - cujas peripécias hoje desembocaram tanto na secularização como no retorno do religioso.
É preciso acrescentar, o que não é indiferente do ponto de vista da significação da filosofia ocidental,