Filosofia Medieval
O surgimento do Cristianismo divide a história do pensamento, como a história da civilização, em duas partes inteiramente distintas.
Jesus Cristo não se apresenta ao mundo como um fundador de escola, semelhante a Platão e Aristóteles, que investiga, raciocina, discute e propõe a um círculo, mais ou menos estreito de iniciados, o seu sistema de idéias, a sua explicação do Universo; revela-se como Deus e Salvador que, possuindo a verdade em sua plenitude, a comunica aos homens por meio de seu magistério infalível. Não é o cristianismo um sistema filosófico, no sentido rigoroso do termo. Mas, íntima e universal foi a influência que exerceu sobre a orientação da filosofia. Era natural. Propostas como infalivelmente verdadeiras, as novas soluções sobre a existência e a natureza de Deus, as suas relações com o mundo, a origem e os destinos do homem, a obrigação e a sanção da lei moral, não podiam deixar de ter uma repercussão profunda em toda a filosofia que versa sobre estas mesmas questões ainda que encaradas sob aspecto diverso.
O próprio fato da revelação, alargado por novos meios de conhecimento a esfera das verdades cognoscíveis e abrindo novo campo às esperanças humanas, era de impor-se à inteligência como uma questão completamente nova e de importância transcendental. Da vinda de Cristo em diante quase toda questão filosófica apresenta um aspecto duplo, racional e religioso, e todo filósofo deve definir e justificar sua atitude em face deste acontecimento único, com todas as conseqüências que ele envolve, atitude que será de reconhecimento e submissão na filosofia cristã, de revolta e menosprezo na filosofia racionalista. Como para Jesus, centro da vida da humanidade, convergiram em todos os tempos os amores e os ódios de todos os corações, assim também para ele se dirigem todas as inteligências, rejeitando ou aceitando-lhe o Verbo da verdade que regenerou o mundo.
É nas obras dos padres e escritores eclesiásticos que primeiro se manifesta a