Filosofia da educação
Nada impede que essa atitude “farejadora” do filósofo esteja presente no espírito do pedagogo, do sociólogo de educação, do psicólogo da educação. É até desejável. Mas cabe ao filósofo da educação cultivá-la conscientemente como condição sine qua non para realizar o seu ofício. O filósofo da educação deve ser implacável. Implacavelmente racional (sem perder o modo racional de ser, que o ajude a modular corretamente ideias e palavras), questionando com persistência e a fundo o que é educar, por que educar, para que educar.
Na verdade, investigando de modo implacável a própria filosofia, verificamos no seu cerne uma constante relação com a educação, na medida em que ela educa o nosso pensamento, educa-nos para os valores humanizantes, para a convivência, educa-nos para saborear a vida e para morrer com dignidade. Seria até o caso de perguntar-nos se, afinal de contas, não é redundante ou ocioso falar em “filosofia da educação”. Talvez seja ocioso, sim, pensando na definição de filosofia como “teoria geral da educação”, expressa há quase cem anos por Jonh Dewey (1859-1952) em Democray and educacion (1916).
A atividade filosófica, esforço radical de compreensão da realidade humana, não se esgota nessa compreensão. O filósofo procura compreender a existência e, simultaneamente, esboça e empreende uma pedagogia existencial. O filósofo fala e escreve pensando em como desencadear (abrir os nossos cadeados...), mediante seus livros e artigos, mediante suas aulas e palestras, um processo de epifanias, de aprendizagem. Franco Cambi atesta que a obra Fenomenologia do espírito de Hegel (1770-1831) “é um itinerário pedagógico, governado pelo alvo da libertação operada como autoconsciência filosófica”. (CAMBI, 1999, p. 409).
Esse caráter didático ou professoral da filosofia (tirando da palavra “professoral” o que possa soar arrogante) é confirmado pela vida de filósofos educadores, ou filósofos que exerciam o magistério. Bastaria citar