Fichamento a ordem do discurso - foucalt
A ORDEM DO DISCURSO
FOUCALT, Michael. A ordem do discurso. Tradução por Laura Fraga de Almeida Sampaio. 3 Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
Gostaria de me insinuar sub-repticiamente no discurso que devo pronunciar hoje, e nos que deverei pronunciar aqui, talvez durante anos, Ao Invés de tomar a palavra, gostaria de ser envolvido por ela e levado bem além de todo começo possível. (p. 05)
Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, final, está o perigo? (p. 08)
Eis a hipótese que gostaria de apresentar esta noite, para fixar o lugar - ou talvez o teatro muito provisório - do trabalho que faço: suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade. (p. 08)
Em uma sociedade como a nossa, conhecemos, é certo, procedimentos de exclusão e interdição. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa. As regiões onde a grade é mais cerrada, onde os buracos negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade e as da política: como se o discurso, longe de ser esse e ementa transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a política se pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis poderes. O discurso - como a psicanálise nos mostrou - não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo. (p. 09)
Desde a alta Idade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros. Era através de suas palavras que se reconhecia a loucura do louco. Todo este imenso discurso do louco retomava ao ruído;