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O nascimento da prisão
Tradução de Raquel Ramalhete 29 edição,
Editora vozes. Petrópolis 2004
Fortaleza-CE
Primeira parte - SUPLICIO
Capítulo 1 - O corpo dos condenados
“Dentre tantas modificações, atenho-me a uma: o desaparecimento dos suplícios. [...] Talvez, em seu tempo, tal desaparecimento tenha sido visto com muita superficialidade ou com exagerada ênfase como ‘humanização’[...]. No entanto, um fato é certo: em algumas dezenas de anos, desapareceu o corpo supliciado, [...] marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal.” (pag. 12)
“No final do século XVIII e começo do XIX, [...] a melancólica festa de punição vai-se extinguindo. [...] O cerimonial da pena vai sendo obliterado e passa a ser apensas um novo ato de procedimento ou de administração. [...] A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena. E tudo o que pudesse implicar de espetáculo desde então terá um cunho negativo [...]” (pag.12)
“A execução pública é vista então como uma fornalha em que se acende a violência.” (pag. 13)
“A punição vai se tornando, pois, a parte mais velada do processo penal, provocando várias conseqüências: deixa o campo de percepção quase diária e entra no da consciência abstrata; [...] o fato de ela matar ou ferir já não é mais a glorificação de sua força, mas um elemento intrínseco a ela [...] e se por um lado sempre estava a ponto de transformar em piedade ou em glória a vergonha infligida ao supliciado, por outro lado, ele fazia redundar geralmente em infâmia a violência legal do executor. [...]. (pag. 13)
“O desaparecimento dos suplícios é pois o espetáculo que se elimina; mas é também o domínio sobre o corpo que se extingue. [...] (pag. 14)
“Os rituais modernos da execução capital dão testemunho desse duplo processo – supressão do espetáculo, anulação da dor. [...] A redução