Visões e aprições

7378 palavras 30 páginas
Revista Vida Pastoral. Publicado em Novembro-Dezembro de 1996 (pp. 15-23)
Visões e aparições. Por que e para quê?
Por Irmão Afonso Murad (Teólogo, com ênfase em Mariologia).
Visões e aparições constituem assuntos polêmicos. De um lado, atraem multidões de fiéis, que correm atrás dos videntes, em busca de mensagens divinas e de milagres. De outro lado, suscitam reações de indiferença e de oposição em muitos cristãos. Tentando sair dessa polarização, que não é saudável, mostraremos brevemente em que consiste este fenômeno, do ponto de vista da teologia e da espiritualidade. Deter-nos-emos somente no aspecto das mensagens. Se as visões e aparições têm algum sentido para a comunidade cristã, como se relacionam com a Revelação de Deus em Jesus Cristo, que está fixada na Bíblia? Como se articulam os elementos divinos e humanos da comunicação de Deus numa visão-aparição? Como tirar coisas boas das mensagens dos videntes, sem estar obrigado a aceitar que tudo o que dizem venha de Deus ou de Nossa Senhora?
I. DEUS NOS FALOU: A REVELAÇÃO
Como cristãos, temos a nossa fé fundada na certeza de que Deus, na sua liberdade absoluta e gratuita, se comunicou conosco. Deu-se a conhecer em sua realidade íntima de amor transbordante, como Pai maternal, Filho e Espírito. Manifestou também seu projeto de levar a humanidade à comunhão com a Trindade e à mudança de todas as suas relações. A esse evento ímpar e original, decisivo para a nossa salvação, chamamos de Revelação. A teologia cristã denomina de “Revelação” ao processo segundo o qual Deus mostrou “seu rosto e seu coração”, ou seja: quem ele é e como nos ama, e que convoca a humanidade para realizar um inaudito projeto de criação, libertação e salvação no mundo.
1. A Revelação em Cristo e a Bíblia
Compreende-se a Revelação cristã como um processo histórico e dialético, pelo qual Deus foi lentamente se mostrando, à medida que o seu povo evoluía e podia captar os traços de sua realidade íntima. Verdadeiro processo educativo,

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