Fenômenos linguísticos
O Rotacismo - ele gruda feito 'chicrete'
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‘Pranta’, ‘grobo’, ‘frauta’ e ‘probrema’: erros elementares de ortografia na nossa língua portuguesa, certo?
Você concorda?...
Sem pestanejar?...
Pois discordaria se examinasse os tais ‘erros’ à luz da moderna sociolinguística.
Há uma importante corrente de linguistas brasileiros que não concorda com o rótulo de ‘erro’ aposto de modo definitivo e peremptório ao jeito de falar do povo comum, dito iletrado. A esta ‘língua errada’, típica das classes sociais cujo acesso à educação formal é limitado, a linguística moderna chama de ‘português não-padrão’, por oposição ao português-padrão ensinado nas escolas e encontrado nas gramáticas e dicionários. Jamais lhe reputam o estigma do erro; consideram-na, tão somente, ‘uma outra maneira de falar’.
Longe de ser risível, ou absurdo, ou fruto da ignorância do povo, o ‘português não-padrão’ possui a sua própria lógica linguística, solidamente fundamentada na evolução natural da língua através dos tempos. A este fenômeno em particular, da troca do ‘L’ pelo ‘R’ nos encontros consonantais, dá-se o nome de rotacismo. E o rotacismo não é um erro. É, ao contrário, uma tendência natural na evolução das chamadas línguas românicas, aquelas cujo tronco é o latim (especificamente, o latim vulgar). Reputar o fenômeno com a pecha de ‘erro absurdo fruto da ignorância’, ou pior, de ‘burrice’ do eventual falador, significa desconhecer a evolução natural da língua, o que redunda em manifesto preconceito, se postulado sem razão de causa.
Senão, vejamos os exemplos: igreja, Brás, praia, escravo e frouxo. Comparemos, agora, cada uma dessas palavras com a sua original latina e com as correspondentes de outras línguas latinas (clique para ampliar):
Pois bem, havia um ‘L’ no latim, que se conservou no francês e no espanhol (castelhano), mas que acabou por se converter num ‘ridículo’ ‘R’ no português... Ridículo? Mas não há nada de ridículo em igreja, ou