Português Falado no Brasil: alguns fenômenos linguísticos
Apresentação
pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade (1925) o capoeira
― Qué apanhá, sordado?
― O quê?
― Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada. Oswald de Andrade (1925)
Os poemas acima – do nosso grande poeta modernista Oswald de Andrade – evidenciam que, há muito tempo, a variedade do português falado no Brasil está um tanto distante daquela descrita nos manuais de gramática. Não é de hoje que o bom negro e o bom branco da nação brasileira inicia sentenças com pronomes átonos. Não é de hoje que o capoeirista apaga a marca de infinitivo. Não é de hoje que se ouve, nas ruas, nos escritórios, nos cinemas, nas fábricas, na televisão e até nas escolas, sim, nas escolas, os brasileiros contrariarem as regras da gramática culta. Este trabalho se propõe a examinar alguns poucos aspectos dessa variedade de fala do cotidiano do brasileiro. Estrutura-se da seguinte forma:
1. Introdução;
2. Elenco de fenômenos lingüísticos;
3. A marcação de número no sintagma nominal (SN);
4. Considerações finais.
1. Introdução
A variedade popular
De acordo com o trabalho de Rodrigues (1987), nos grandes conglomerados urbanos, podemos identificar um grupo social que faz uso de uma variedade de língua característica denominado pela autora de popular. Seus integrantes caracterizam-se pelo baixo nível socioeconômico, pelo baixo nível de escolaridade e por formarem um imenso contingente de mão-de-obra não especializada. Nossos informantes, tanto da favela de Heliópolis, quanto da de Itaquaquecetuba, encaixam-se no grupo de falantes dessa variedade popular do português. Podemos até arriscar em dizer que o repertório do grupo dessa comunidade lingüística será restrito, pouco variado, pelo