Fearn
Imaginem que os alunos da Universidade canadense de Victoria conseguissem fazer com que o Cyber link funcionasse perfeitamente, e que os nossos pensamentos pudessem ser transmitidos por eletrodos diretamente à web. Isso permitiria, por exemplo, que pessoas incapazes de vocalizar tivessem um meio de comunicação direto. Seria como a confirmação empírica de haver um universo interno e outro externo. Há uma crença tácita num universo íntimo, privado, inacessível aos demais. No entanto, se uma vez o Cyber link viesse a funcionar e fosse socializado (posto a venda), ficaria provada a inexistência desse universo privado. Ficaria provado que o pensamento é algo tão publicitável quanto à voz, seria apenas uma questão de veículo (médium). Se o relato de usuários do Cyber link fosse corroborado por nossa experiência, haveria fortes razões para ficarmos convencidos os sinais cerebrais podem ser traduzidos por meio de impulsos elétricos e eletrônicos. Porém, se o pensamento fosse independente do cérebro? O Cyber link seria impossível. Poderíamos até afirmar que o Cyber link seria o primeiro aparelho detector da consciência. Há eventos imperceptíveis na segunda pessoa, ou a um observador (terceira pessoa), como uma migalha de pão com a qual se engasga, ou a mosca volante no globo ocular, e no entanto não argumentamos que são eventos apenas perceptíveis na primeira pessoa. Porque insistir que a consciência é um evento que se nota apenas em primeira pessoa?
Para alguns filósofos, dor e pensamentos não são apenas processos cerebrais. David Chalmers argumenta que a descoberta dos canais elétricos e eletrônicos dos processos cerebrais não teria respondido ao problema difícil: como o cérebro produz consciência?
No século XVII, Descarte afirmou que poderia imaginar-se existir sem um corpo. Seria uma mente desencarnada. Por quê? Por que mente e corpo seriam duas substâncias distintas, uma coisa corpórea (substância extensa) e outra anímica (substância