FAMILIA
Claudia Fonseca,
Antropologia, UFRGS
É com muito prazer que venho integrar essa mesa interdisciplinar sobre novas tendências de pesquisa sobre a família.
Através de uma consulta à bibliografia atual,
proponho trazer aqui uma colaboração da Antropologia ao mesmo tempo que elaboro uma inquietação surgida de minhas próprias pesquisas. Trabalho normalmente em bairros da periferia urbana onde lanço mão do método etnográfico para pensar a especificidade de valores e práticas nesse contexto. Contudo, muitas vezes, ao destacar, entre os sujeitos de meu estudo, dinâmicas familiares que divergem do modelo conjugal (típico do meu contexto), tenho a impressão de reforçar, antes do que combater, estereótipos do senso comum. Qualquer desvio de padrões hegemônicos é freqüentemente visto pela platéia como sintoma de inferioridade, desorganização social, ou atraso. Na melhor das hipóteses, dinâmicas alternativas em grupos populares seriam vistas como uma adaptação funcional à pobreza – “estratégias de sobrevivência”. Embora essa última noção aponte para aspectos importantes da realidade, arrisca ser usada de forma simplista, reduzindo tudo que é específico a uma questão econômica – como se “pobres” tivessem estratégia de sobrevivência em vez de cultura. Nesse artigo, procuro aproveitar a literatura atual sobre relações familiares para esboçar um modelo analítico que combate perspectivas reducionistas deste tipo.
Agrupo as pesquisas que nos interessam em duas grandes linhas: por um lado, a que enfoca o indivíduo enquanto valor fundamental da modernidade e que tem provocado uma resignificação da própria noção de família , e, por outro, a que resgata a dinâmica
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“Da família ao parentesco em sociedades complexas”. Participação na Mesa
Redonda “O lugar da família na ciência contemporânea: desafios e tendências na pesquisa”.
Congresso Internacional Pesquisando a Família, Florianopolis 24-26 de