Existem crocodilos no mar
Quando se lê um livro como este, é difícil acreditar que não se trata de ficção; às vezes a vida realmente imita a arte. O protagonista desta história é um garoto afegão deixado pela mãe em um quarto de hotel quando tinha somente 10 anos de idade. O pior de tudo, num estabelecimento paquistanês reservado a comerciantes clandestinos especialistas em negociar seres humanos.
Sua primeira reação é o total desalento e uma revolta profunda; aos poucos, porém, ele se reequilibra e percebe que terá de seguir adiante sozinho, pois deseja acima de tudo vencer as tormenta do caminho, mesmo sem saber como será seu futuro a partir deste momento.
Enaiatollah Akbari é um garoto da etnia Hazara, com olhos no formato de amêndoas, e para se livrar dos Talibãs tem que deixar o próprio país. Ele se despoja das delícias da infância e mergulha em uma fuga repleta de riscos. Na sua jornada o menino atravessa dois continentes.
Caminhando, navegando, ocultando-se em um ônibus ou no espaço falso de um caminhão, e até mesmo escondido em um bote inflável, ele passa ilegalmente por países como o Irã, a Turquia e a Grécia, até desembarcar na Itália, onde até hoje permanece, dez anos após o início de suas aventuras.
É uma incrível lição de vida perceber como o protagonista, apesar de tudo, conserva a alegria de viver, o bom humor e ainda alimenta muitos sonhos. Hoje ele tem pouco mais de vinte anos – não é possível definir sua idade correta, pois não tem documentos -, reside em Turim e tornou-se amigo do autor quando este lançava seu primeiro livro, Per Il Resto Del Viaggio Ho Sparato AgliI Indiani.
Após transmitir o relato de sua existência ao escritor e assim dar origem a este livro, os dois se uniram para a divulgação da obra, principalmente no ambiente escolar, onde realizam palestras sobre o tema. A narrativa é dinâmica, leve e tem o formato de um bate-papo descontraído. Fabio várias vezes interfere na história de Enaiatollah para recordar o leitor de que