estudante de graduação
Cleber Carvalho
A criança que se recusa a comer a dieta elaborada pela nutricionista, a paciente oncológica que não abandona o cigarro que a vitimou, o rapaz com uma doença degenerativa, progressiva e incurável. São casos típicos que levam a equipe técnica – médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e fisioterapeutas – a procurar pela equipe de psicologia.
Seguindo uma prática comum a psicólogos em instituições hospitalares no
Brasil, os estagiários do Hospital Antônio Pedro (HUAP) acatam esses pedidos e desenvolvem o acompanhamento do paciente em questão.
Como estagiário de psicologia, intriga-me a descoberta de elementos que criem essa demanda. Qual seria o filtro utilizado pelos diversos profissionais do hospital a fim de definir o trabalho do psicólogo? Se mesmo entre os psicólogos não é certo o que é a psicologia e a quem deve se dirigir sua atuação (Canguilhem, 1972), esperar que os não psicólogos tenham esse direcionamento seria criar uma atuação cercada pela ignorância.
Convencionou-se dizer que o psicólogo é aquele que trata de aspectos subjetivos do paciente. Se assim o fosse, no entanto, não haveria cura no hospital sem o acompanhamento psicológico de cada “caso”. Heidegger nos mostra, nos seminários de Zollinkon que a discriminação objetivo/subjetivo foi iniciada com Descartes, onde objetivo seria o que se estuda, o recorte na natureza e subjetivo seria o que está abaixo e dá base ao objeto de estudo. Ou seja, o “objetivo” é originariamente ligado à subjetividade (Heidegger, 2001). O termo em inglês para “assunto” (subject) e as pesquisas de Vinciane Despret mostrando que a “neutralidade”, geralmente tida como um exercício da
“objetividade”, é, sobretudo, uma afetação subjetiva possível evidenciam a artificialidade dessa cisão (Vinciane, 2011). Romano lembra ainda que antes da divisão operada por Descartes e Newton, cabia ao médico promover