Estado e saúde
SONIA FLEURY2
A emergência, no final dos anos oitenta, de uma nova questão e de um novo modo de intervenção social tem sido identificado por Donzelot3 como decorrente de um triplo declínio na concepção de solidariedade, na integração das forças sociais e na definição do papel do Estado. O que caracteriza este novo modo de intervenção social é o fato de visar, desta vez, às vítimas da nova ordem socioeconômica, para a qual parte da população se tornou inútil: “o problema não é mais a inferioridade da representação em relação à dinâmica conflitual das relações
sociais;
(mas)
estes
segmentos
excluídos
da
ordem
socioeconômica e incapazes de se dotar de uma representação que faria deles, precisamente, uma força social” (Donzelot, 1998:181).
O princípio da solidariedade fundada na interdependência gerada pela divisão social do trabalho entra em crise com a precarização das relações de trabalho, assim como as políticas públicas, como o Welfare State, que se baseavam na centralidade do trabalho como princípio articulador da sociedade.
As políticas atuais de inserção buscam reafirmar a natureza contratual do elo social em novas bases, com a revalorização do local e comunitário e a transformação do Estado em um animador e mobilizador de recursos societários. Reduzido a mantenedor da estabilidade de uma ordem econômica que produz a fragmentação e a exclusão social, o Estado, busca atuar de maneira compensatória e focalizada, atendendo aos grupos mais vulneráveis e/ou potencialmente ameaçadores da ordem social, por meio da convocatória da
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Trabalho apresentado no CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS,
Coimbra, 16-18 de Setembro de 2004
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Professora da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas- EBAPE da
Fundação Getulio Vargas sfleury@fgv.br www.ebape.fgv.br/pp/peep
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solidariedade lançada aos diferentes setores inseridos na